Português tikuna e a variação no âmbito morfossintático: um estudo a partir da fala de professores tikuna
International Journal of Development Research
Português tikuna e a variação no âmbito morfossintático: um estudo a partir da fala de professores tikuna
Received 06th November, 2021; Received in revised form 17th December, 2021; Accepted 21st January, 2022; Published online 20th February, 2022
Copyright © 2022, Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio. This is an open access article distributed under the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.
O contato dos Tikuna com os não-indígenas falantes de português foi registrado, de forma pontual, no século XVII, mas fora intensificado na segunda metade do século XIX e, até a atualidade, tem contribuído para a formação de uma variedade específica de português falada pelos Tikuna como segunda língua. Além de se manifestar na modalidade oral, essa variedade específica também se manifesta na modalidade escrita. No entanto, neste artigo, voltamos nossa atenção à modalidade falada e temos como objetivo principal analisar em que medida a estrutura da língua Tikuna exerce influência na variedade de português falada por professores da educação básica, indígenas Tikuna, moradores de aldeias pertencentes ao município de São Paulo de Olivença, no Amazonas. Além disso, investigamos também se essa variedade envolve questões outras, como aquelas relacionadas a universais de aquisição de segunda língua, aquelas que dizem respeito a condicionamentos também utilizados por falantes de português de outras variedades de português indígena do Brasil, ou ainda, por outras variedades utilizadas por falantes nativos de português do Brasil (doravante PB). Para alcançar o objetivo, foram analisados dados de fala de vinte e três professores Tikuna, partindo-se da seleção de fenômenos linguísticos que englobam aspectos morfossintáticos dessa variedade. Os resultados apontam que o contato com falantes nativos de PB tem culminado em uma variedade do português indígena Tikuna que apresenta, predominantemente transferência da L1 no nível estudado, isso porque, segundo nossa análise é a gramática da Língua Tikuna que permite essa variação. Não negamos, contudo, que a essa possibilidade se unem aspectos ligados aos universais de aquisição de segunda língua. Identificamos também replicação dos condicionamentos conforme aqueles utilizados por falantes nativos do PB. O registro e a caracterização dessa variedade indígena têm a intenção de contribuir para a descrição do conjunto de variedades de português indígena falado na região Norte do Brasil.