As narrativas orais e o letramento no registro de um escutador de histórias
International Journal of Development Research
As narrativas orais e o letramento no registro de um escutador de histórias
Received 09th December, 2019; Received in revised form 24th January, 2020; Accepted 11th February, 2020; Published online 31st March, 2020
Copyright © 2020, Sayonara Cordeiro de Marins Nogueira. This is an open access article distributed under the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.
Este artigo analisa as relações entre as narrativas orais e o texto escrito na perspectiva intercultural do letramento a partir do livro São Gonçalo do Mulungu – Cenário de Mitologia, Fé e Compromisso do autor Bertolino Alves Nascimento. Foi considerando os pressupostos cultuais e de letramentos presentes nos relatos dos contadores de histórias e os indícios dessas práticas como provocação ao letramento dos escutadores, que houve apropriação dos discursos de Zumthor (1993/ 1997) refletindo sobre a voz na escrita, bem como de Vancina (1982) com a tradição oral, e também das contribuições de Street (2007) com as perspectivas interculturais sobre letramento. Numa abordagem qualitativa no viés da História Oral (THOMPSON,1992) deu-se conta das ações realizadas pelo autor/escriba do livro a partir de uma entrevista narrativa, e numa análise interpretativa (SEVERINO, 2007) do livro em questão, onde foi situado o texto no contexto da vida e da obra do autor, bem como a participação de figurantes, se valendo apenas da oralidade, onde contam para o autor/escriba histórias sobre a origem da festa (São Gonçalo), com fatos marcantes do ano de 1938 sobre o messianismo (as romarias), as revoltas e insurreições no sertão nordestino. Nesse itinerário percebemos a imbricação da oralidade com a escrita onde as histórias na boca do povo perpassaram para o papel, contribuindo para o empoderamento desse povo, trazendo uma relevante contribuição para além do letramento, visto posto, que a luta de bravos remanescentes da comunidade de Maniçoba, com suas histórias fomentam a cultura local, e devem ser conhecida, reconhecida e admirada. O letramento nesse contexto foi afetado por cidadãos que de maneira autônoma registraram essas histórias através da produção de um livro independente, não recorreram às instituições formais, mas a um cidadão que tinha conhecimento das letras, provocando, assim, uma discussão sobre a imbricação da oralidade com a escrita.